Armadores de cabotagem apostam em cargas pesadas

As empresas de navegação que operam na cabotagem, entre os portos do país, estão apostando no desenvolvimento do transporte marítimo de equipamentos ligados à infraestrutura. Esse segmento de mercado é conhecido como “carga de projeto” e inclui peças industriais como pás e torres eólicas, turbinas e geradores de hidrelétricas e outros produtos e bens, inclusive para a indústria de petróleo. Empresas de porte como Aliança, Log-In e Norsul têm investido em barcos para transportar cargas pesadas e fora de padrão e acreditam no crescimento desse mercado, apesar das oscilações na demanda. Há empresas menores que também veem perspectivas positivas neste segmento da cabotagem.

“Entendemos que há um mercado a ser desenvolvido na carga de projeto e, por isso, afretamos, em agosto, o navio BBC Scandinavia”, disse Cleber Lucas, diretor de planejamento e desenvolvimento da Log-In. O navio tem capacidade para transportar 6.350 toneladas e conta com dois guindastes aptos a içar, em conjunto, cargas de até 500 toneladas. Lucas disse que, ao fim do aluguel do navio, a Log-In deve transformar esse contrato em afretamento a “casco nu”, com bandeira brasileira. Esse é um contrato em que o afretador tem a posse, o uso e o controle da embarcação, incluindo o direito de designar comandante e tripulação.

A principal carga de projeto para as empresas de cabotagem tem sido os equipamentos dos parques eólicos, com fretes marítimos entre o Sul e o Nordeste do Brasil. “O setor de infraestrutura está demandando [fretes para cargas de projeto] e entendemos que esse será um negócio de longo prazo”, disse Julian Thomas, diretor-superintendente da Hamburg Süd para a costa leste da América do Sul. A Hamburg Süd controla a Aliança Navegação e Logística, empresa que alugou este ano um navio multipropósito, o Aliança Energia, para carregar equipamentos de grandes dimensões e volumes.

A Aliança alugou o navio, batizado de Aliança Energia, por três anos. A embarcação tem capacidade para transportar cerca de 19 mil toneladas de carga e é equipada com três guindastes que, juntos, podem içar peças de até 800 toneladas. Embora entenda que haverá demanda assegurada para a carga de projeto, Thomas disse que o mercado precisa responder à oferta de serviços na cabotagem. “Caso contrário não vamos manter um serviço à toa”, disse Thomas.

Thomas disse acreditar que há espaço para todos os agentes presentes nesse segmento da cabotagem se desenvolverem, mas afirmou que é preciso que todas as empresas operem com as mesmas regras e em condições simétricas de custos. A afirmação é uma referência ao que a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), presidida por Lucas, chama de “venda de bandeira”. “A Abac quer o fim da venda de bandeira, movimento que envolve empresas brasileiras de navegação [EBNs] de papel que emprestam o nome para dar cobertura à operação de empresas estrangeiras na cabotagem”, disse Lucas.

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) colocou em consulta pública proposta de alteração de norma para disciplinar o afretamento de embarcação por EBNs nas navegações de apoio portuário, apoio marítimo, cabotagem e longo curso. Segundo fontes do setor, “empresas de papel” estariam contestando dispositivo dessa norma da Antaq.

Para Ângelo Baroncini, diretor-presidente da Norsul, existem boas perspectivas para a carga de projeto na cabotagem, mas o desenvolvimento deste segmento vai depender do que acontecer na economia. Baroncini disse que a Norsul controla navios de bandeira brasileira que operam com cargas de projeto. Mas esses navios não estão totalmente dedicados a trabalhar neste mercado pois não há carga a toda hora.

A Norsul, controlada pela família Lorentzen, tem dois navios multipropósito e uma barcaça oceânica aptos a trabalhar com cargas de projeto. Além desses três navios, a empresa avalia importar temporariamente um navio com capacidade elevada de içamento para operar com cargas de projeto na cabotagem.

Fonte: Portos e Navios

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