Exportações da indústria brasileira de moda crescem no mercado Árabe

Elas não são um fenômeno de consumo, mas em visitas a boutiques e lojas de roupas do mundo árabe é possível se deparar cada vez mais com etiquetas “Made in Brazil”. Estilistas e indústrias brasileiras da área perceberam o potencial de demanda na região e aos poucos a moda brasileira vem ganhando espaço nas exportações, principalmente entre os compradores de peças de praia, roupas infantis e para festas.

Diante do que o Brasil exporta em produtos têxteis, o mundo árabe é um pequeno importador. Os países do Golfo Arábico e Norte da África receberam US$ 7,3 milhões em produtos têxteis e de confecção brasileiros de janeiro a junho, diante de uma exportação geral do setor de US$ 490 milhões. Os árabes compraram 1,5%. Mas enquanto as vendas externas do segmento como um todo caíram 9,1%, a exportação para a região cresceu 17% sobre iguais meses de 2015. Os números são da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Há uma lista grande de marcas brasileiras que já exportaram ou exportam para a região, como Puket, Adriana Degreas, Brandili, Plural, Elian, Liziane Richter, Printing, Lenny Niemeyer, Feriado Nacional e muitas outras. Algumas famosas e outras nem tanto, a maioria conquistou o árabe pelo que levou de único, de brasileiro, de qualidade. “Percebemos que quanto mais trabalhado, mais com características nossas, mais é valorizado”, afirma Lilian Kaddissi, gerente executiva, do Texbrasil, programa de incentivo a exportações do segmento.

A executiva acredita que a moda brasileira ganha espaço entre os consumidores árabes ou pela matéria-prima, com malharia e algodão de qualidade, ou pela agregação de valor, com o trabalho artesanal, as estampas, as cores. “O que remete ao estilo de vida do Brasil”, afirma. Explorar o mercado por essa via permite às marcas fugirem da concorrência com as grifes europeias, com bastante tradição por lá, e também dos asiáticos, que oferecem produtos a preços menores, mas com qualidade inferior e sem esses diferenciais.

A grife de moda praia Adriana Degreas veste as mulheres árabes há seis anos e ganhou a simpatia delas ao oferecer brasilidade e luxo. “A marca conquistou espaço no mercado árabe ao oferecer uma moda praia chic e elegante, com o DNA e a bossa brasileira, trazendo elementos clássicos e exclusivos aliados a uma proposta inovadora, carregada de lifestyle tropical chic que as clientes adoram”, diz a estilista Adriana Degreas, dona da empresa.

A marca abriu as portas do varejo árabe pelo Líbano e está também na Arábia Saudita e Emirados. A Adriana Degreas vende no mercado saudita principalmente os kaftans, aqueles vestidos longos que podem ser usados sozinhos ou sobre outras peças. “Em modelagens mais fechadas e em tecidos leves como viscose e algodão”, diz Degreas, explicando que os modelos exportados não levam decotes profundos, ombros a mostra ou fendas e transparências. São vendidos os estampados, mas o grande sucesso é dos lisos em cores vivas e alegres.

A estilista conta que as sauditas gostam muito das peças com bordados também e que a moda praia por lá é mais comportada. “Maiôs mais clássicos e biquínis hot pants fazem sucesso”, afirma, sobre os modelos com calcinha mais fechada e cintura alta. Emirados e Líbano são muito abertos a novidades, segundo Adriana Degreas, que vende bem nos dois países biquínis e maiôs com recortes de tule, além dos hot pants e outras peças de vanguarda da marca.

A marca teve desempenho positivo no mercado árabe nesse começo de ano e abriu novos pontos de venda na região, principalmente em Dubai. O crescimento deve seguir neste e no próximo ano, segundo Degreas. Ela vê sinergia e identificação entre os países árabes e a proposta da sua marca e afirma que o mercado é bom para moda praia. “As mulheres desejam estar bem vestidas em seus momentos de lazer e buscam produtos exclusivos”, afirma.

Em outro universo, o de roupas infantis, a Brandili também tem nos árabes o consumo de boa parte das peças que exporta. A marca, na região desde 2004, tem clientes no Líbano, Egito, Jordânia e Emirados. Esses países respondem por 20% das exportações da empresa. A Brandili é conhecida pelas roupas de qualidade, confortáveis e criativas que oferece ao público infantil. No mundo árabe, a indústria vende todos os produtos do portfólio, para meninos e meninas.

As roupas que têm mais destaque são as da marca Brandili (a empresa tem licenciados e a Brandili Mundi e a Brandili Club), que têm boa relação custo/benefício, de acordo com o gerente de exportação, Fabiano Dahlke. “São produtos com um bom nível de elaboração e que possuem alta qualidade nas malhas e acabamentos”, afirma. De acordo com o executivo, as peças também retratam muito bem o espírito infantil em suas cores, elementos e acabamentos, o que faz com que as crianças se sintam confortáveis ao vesti-las.

Mas Dahlke afirma que a moda infantil brasileira não é formadora de tendências no mercado árabe como em segmentos como praia, lingerie e calçados. Segundo o gerente, ela ganha mercado por sua relação custo/benefício e pela quantidade de mix nas coleções. A Brandili acredita que conquistou espaço pela constância nos negócios com o mercado árabe – independentemente das variações do câmbio -, o relacionamento próximo com os parceiros, a apresentação constante de produtos de qualidade, visual atual e variedade de opções.

A empresa vem crescendo e espera fechar o ano com desempenho positivo no mercado árabe, com avanço de 15% nas vendas sobre o ano passado. As parcerias que a empresa vem desenvolvendo nos países da região e o dólar mais favorável devem impulsionar o avanço. Mas o gerente de exportação acredita que a empresa teria condições de ampliar muito mais suas vendas se a condição de câmbio fosse ainda melhor.

Segundo a percepção da Brandili, o mercado árabe é bom para moda infantil por uma série de questões, entre elas a cultural. “Lá as crianças são muito presenteadas com roupas, principalmente após o período do Ramadã”, afirma Dahlke. O gerente diz que em função do clima, as peças brasileiras de verão são muito bem aceitas no mercado local.

A moda by Brazil pode ser encontrada principalmente em boutiques independentes. Algumas marcas vendem nas cadeias de varejo, as lojas de rede, mas essa não é uma realidade da maioria. A Adriana Degreas, por exemplo, comercializa suas peças em boutiques. A grife, porém, tem por objetivo atender também as lojas de departamento e as lojas conceito.

Os canais de vendas da Brandili são bem variados. Em alguns países as peças vão para lojistas pequenos e médios, nos quais o produto é o principal dentro do estabelecimento, e em outros vai para grandes organizações ou são comercializados por distribuidores.

De valor

Os países árabes que mais importam produtos têxteis e de confecções brasileiros são Egito, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Arábia Saudita e Líbano, em ordem decrescente, segundo o ranking da Abit do primeiro semestre deste ano. Os dois primeiros, porém, são grandes compradores de matérias-primas, já que eles próprios têm produção de confeccionados, lembra Lilian Kadissi. O Marrocos também.

Os produtos acabados vão mais para os outros destinos e suas exportações vem sendo impulsionadas principalmente pelo programa Texbrasil, que é conduzido pela Abit em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O programa incentiva a exportação de produtos com valor agregado.

No ano passado, os países árabes importaram US$ 13,3 milhões em têxteis e confeccionados do Brasil, dos quais US$ 3 milhões foram comercializados por empresas do Texbrasil para Emirados, Arábia Saudita, Líbano, Tunísia, Marrocos, Kuwait, Catar, Egito e Jordânia. Enquanto as exportações da indústria brasileira da área como um todo para os países árabes avançaram 17,7% sobre 2014, as vendas das empresas integrantes do programa para a região saltaram 64,3%. “São países muito interessantes para exportações de vestuário”, afirma Kadissi.

Consumidor final

A Abit vai renovar seu convênio do Texbrasil com a Apex-Brasil no final deste ano e deve estabelecer os Emirados como uma porta de entrada para o mercado árabe, de acordo com Kadissi. A partir dessa renovação, a ideia é criar alguma ação voltada ao consumidor final no país. Os Emirados já foram foco de iniciativas de promoção de exportação do programa, mas voltadas para o B2B, para os importadores e varejistas.

Com base no crescimento que vem ocorrendo nas exportações para o mundo árabe, no momento favorável para as vendas internacionais e nas ações de posicionamento comercial e de imagem que o Texbrasil pretende realizar voltadas para o mundo árabe, Kadisse acredita que haverá crescimento nas exportações para a região este ano.

Fonte: Anba

 

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