Reavaliação da dinâmica do Comex e as mudanças nas Cadeias Globais de Valor

Você sabe o que são as Cadeias Globais de Valor e a função do Brasil nestas estruturas?

Um questionamento que talvez seja ainda mais relevante é qual o impacto da pandemia nestas cadeias e no cenário de comércio exterior. 

As mudanças causadas pela pandemia impactaram diversos setores, e a estrutura internacional de investimentos, importações e exportações também foi afetada. Por isso, é preciso entender a posição do Brasil neste cenário. 

Neste artigo você verá o que são as CGVs, alguns dos principais insights da pesquisa “Reorganização das Cadeias Globais de Valor”, a relevância do Brasil nestas cadeias, os impactos da pandemia, e muito mais. 

Boa leitura. 

O que são as Cadeias Globais de Valor (CGVs)?

O comércio internacional de bens e serviços se organizou na década de 1990, em um modelo conhecido como Cadeias Globais de Valor, ou CGVs. Este modelo permite que os países ou regiões que recebem investimentos produtivos sejam definidos a partir da fragmentação da sua produção e das estratégias das empresas. 

O site Comex do Brasil define o termo como:

“É a separação de atividades e etapas de um processo de produção entre diferentes economias no mundo, liderado pelos investimentos realizados por grandes empresas industriais. Em outras palavras, a cadeia de valor é o “caminho” de produção de um determinado bem. Esse caminho, que é diferente para cada tipo de produto, possui uma série de fases que se conectam: pesquisa e desenvolvimento, a aquisição de insumos, a fabricação, a distribuição e as vendas, até o pós-venda.”

Ou seja, é a distribuição das fases de produção em diferentes países, em busca da otimização do processo, que forma uma CGV, gerando mais dinamismo e uma relação global nos sistemas de produção.

Nesse sentido, os países possuem diferentes funções em uma Cadeia de Valor, sendo as 3 principais:

  • Inovação e controle;
  • Processamento de exportação;
  • Exportação de peças e componentes. 

Mas, estas cadeias vêm sofrendo mudanças e transformações nos últimos anos, devido a diferentes movimentações e causas. Questões como decisões empresariais, relações externas e fatores geopolíticos podem influenciar significativamente nas CGVs.

Entretanto, foi com a pandemia iniciada em 2020 que as CGVs sentiram o maior impacto. Isso porque a crise causada pela pandemia interrompeu os sistemas de produção, influenciou na economia, no suprimento de bens e serviços e trouxe uma grande insegurança à todas as pessoas e setores. 

Estudo: reorganização das Cadeias Globais de Valor

A crise de 2020 impactou profundamente as Cadeias Globais, principalmente devido à sua estrutura, que não estava preparada para eventos como este. Desta forma, foi preciso reavaliar o modelo e a dinâmica do comércio exterior para adaptar o cenário global pós-pandemia

Isso porque o mundo inteiro viu os riscos de depender de poucas fontes de fornecimento na logística internacional, o que permitiu, inclusive, a entrada de novos players nas CGVs.

Pensando nisso, a TOTVS e CNI (Confederação Nacional da Indústria) realizaram um estudo sobre a reorganização das Cadeias Globais de Valor, que aborda os riscos e oportunidades para o Brasil, resultantes da pandemia de Covid-19.

A seguir reunimos os principais insights deste estudo em relação à função do Brasil nas CGVs, os impactos da pandemia e algumas das expectativas para o país que podem torná-lo mais relevante nesta estrutura internacional. Confira:

A relevância do Brasil nas Cadeias Globais de Valor

O estudo da TOTVS e CNI mostrou que o Brasil desempenha um papel na economia global de exportador de commodities primárias, ou produtos baseados em recursos naturais. 

Um dado interessante que apresenta isso na prática, referente à levantamento da CNI, mostra que a participação da soja, petróleo bruto e minérios na exportação aumentou de 11% para 35% no período de 2001 a 2020.

Ou seja, o país gera bastante receita em exportação, porém ainda não tem o melhor desempenho quando se trata da integração ao comércio global, algo que pode trazer inúmeros benefícios socioeconômicos. 

De maneira geral, o estudo afirma que a posição do país dentro das CGVs é fraca. 

As 3 principais funções de um país nas CGVs, abordadas anteriormente, não são desempenhadas pelo Brasil. Seja em inovação e controle, processamento de exportação ou na exportação de peças e componentes, o país não se destaca frente à cadeia internacional. 

A participação do Brasil está mais relacionada a hospedar as filiais de empresas multinacionais (EMNs) nos setores de alta intensidade tecnológica, como nos mercados de veículos automotivos e eletrônicos. Por sua vez, a inovação destas indústrias está presente nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estudo ainda afirma que a falta de exportações indica uma escala de produção no Brasil abaixo do ideal, comparando com grandes economias. Este fator, aliado aos custos elevados de importação e exportação, alta carga tributária, logística ruim e dificuldade para fazer negócios no Brasil, acaba levando a um cenário de qualidade inferior dos produtos e preços mais altos para o mercado. Além disso, também gera menos incentivos de inovação.

Por fim, o IED (Investimento Estrangeiro Direto) do Brasil é considerado fraco no exterior, em comparação com outros países. 

Os impactos da pandemia de Covid-19 no comércio e investimento global

Sabemos que a pandemia influenciou em inúmeros aspectos no mundo inteiro, desde economia, logística, comércio, entre outros. 

Se tratando do comércio internacional, a pandemia causou, em seu início, paralisações que levaram ao colapso do mercado no segundo trimestre de 2020. Mas, já no terceiro trimestre a produção e o comércio começaram a se recuperar, mesmo que em níveis mais baixos. 

A pesquisa mostrou que os maiores exportadores sofreram quedas rápidas, e praticamente simultâneas, em suas exportações e abril a maio de 2020, mas após 5 meses, em outubro, iniciaram um movimento de recuperação. 

Tomando os Estados Unidos como exemplo, as exportações totais atingiram US$ 162 bilhões em março de 2020, mas em maio chegaram ao nível mais baixo em 90,7 bilhões. A recuperação, em outubro, levou o país à marca de US$ 133 bilhões  em exportações. 

O Brasil, que já exportava majoritariamente commodities primárias, viu suas exportações e importações se manterem estáveis durante 2020, pois estes produtos tiveram um grande aumento em exportação. Este fator ajudou a compensar as interrupções comerciais nas CGVs;

Por fim, os itens relacionados à pandemia, como medicamentos e esterilizadores, por exemplo, tiveram uma tendência oposta ao mercado em geral, com picos de crescimento no início da pandemia e uma estabilização posterior, em níveis mais altos. 

As expectativas e necessidades para o Brasil como participante das CGVs

O estudo da TOTVS e CNI analisado mostra que hoje, o Brasil não ocupa uma posição relevante nas Cadeias Globais de Valor. Para que isso aconteça, é preciso que o país invista em uma maior diversificação regional das cadeias, para que consiga se integrar melhor no cenário internacional.

Neste aspecto, um dos pontos abordados pela pesquisa é a alta dependência do Brasil em relação à China, seja como destino das exportações de commodities, ou como fonte de produtos intermediários de alto valor. 

Esta relação é, com certeza, extremamente importante para o Brasil. Mas, contar com indústrias dos Estados Unidos e Europa no país pode ajudar a ampliar as relações e possibilidades do Brasil nas CGVs.

Outras expectativas, ou mesmo necessidades do país para se destacar mais neste cenário, são apresentadas pelo estudo:

  • Maior investimento e apoio em programas e instituições de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D);
  • As empresas do Brasil precisam de mais assistência no financiamento de suas exportações;
  • Também é preciso dar maior apoio às empresas para desenvolver uma atuação mais estratégica, voltada ao Investimento Estrangeiro Direto (IED);
  • É necessário alinhar as políticas de inovação com as políticas industriais. Isso porque os aumentos de custos de comércio impedem o investimento em mais tecnologias e reduzem o incentivo à inovação;
  • As empresas brasileiras também devem se atentar ao cenário externo. Isso não se aplica apenas às exportações, mas também a investimentos. Desta forma, será possível expandir globalmente, e colocar o país em novas posições nas CGVs.

Seu negócio está preparado para fazer parte das CGVs?

Analisamos neste conteúdo os principais insights e cenários apresentados no estudo sobre a reorganização das Cadeias Globais de Valor, produzido pela TOTVS e CNI, visto às mudanças e necessidades causadas pela pandemia e a crise global. 

Você viu que a dependência de poucos fornecedores nesta cadeia e a falta de uma atuação estratégica podem colocar o país em situações de risco no comércio internacional. 

Apresentamos também quais são as expectativas e o que é preciso fazer para que o país ocupe uma posição de maior destaque e estratégia nas CGVs, o que envolve investimentos em pesquisa, inovação, desenvolvimento e alinhamento de políticas. 

Esperamos que este conteúdo tenha tornado o assunto das Cadeias Globais de Valor mais claro para você! Para conferir mais conteúdos como este, tendências do mercado, pesquisas e muito mais, cadastre-se em nossa newsletter:

Compartilhe nas Redes Sociais

Facebook
Twitter
LinkedIn

Notícias Mais Lidas

Categorias

Assine a nossa Newsletter

Conheça nossos e-books

Pular para o conteúdo